(Foto de Humberto Mota, tirada da página da SANA)
Como foi ser o Mewtwo em meio a febre nacional do Pokémon?
– Para mim foi um susto. Pokémon era dublado em São Paulo quando chegou um filme para a gente fazer… foram dois que eu fiz?
– Foi o filme “Mewtwo vs Mew” e um especial chamado “O Retorno de Mewtwo”.
– Eu sabia do impacto do anime e eu sou fã de animes e de mangás. Pokémon não é um anime que eu acompanho, mas eu percebi que as pessoas comentavam muito sobre o Mewtwo. Quando eu dublei eu não tinha ideia do quanto iam gostar, de que tinha tanta força nesse personagem. Eu via nele apenas um personagem bacana, legal, interessante… depois que eu percebi, notei que o pessoal realmente gostava dele. Afinal, eram crianças que acompanhavam Pokémon, jogavam, assistiam… até hoje tem Pokémon, é uma coisa daquela geração. A minha geração não pegou Pokémon, mas foi muito bom.
Como foi o começo da sua carreira de dublagem?
– Quando eu tinha uns 6-8 anos, meu pai pegava um gravador daqueles antigos e nós ficávamos escrevendo histórias (sou velho, nasci em 1970, vou fazer 43) e a gente ficava criando roteiros, ele fazia um monstro e eu fazia um jovem cientista, ele fazia o Drácula e eu fazia um mini lobisomem… eu tenho essa coisa de ator por causa do meu pai. A gente ficava longas tardes fazendo isso, a ponto da mãe dele, minha avó, perguntar: “Vocês não vão almoçar? São 6 da tarde e vocês não almoçaram, vocês vão ficar aí?”. O meu pai era um amigão meu, como se fosse um irmão mais velho. A interpretação acabou se tornando uma coisa natural para mim, meu pai mesmo falava que queria que eu fosse um desenhista, artista, ator, dublador, pois eu iria ser feliz, ele não queria que eu fosse um “engravatado” infeliz, queria que eu fosse um artista. Ter um pai assim fez toda a diferença.
Amanhã estreia um filme de Pokémon no Japão com Mewtwo, você aceitaria fazer a voz dele novamente?
– Se mandarem para o Rio… o problema é eu ir para São Paulo para gravar. Se for interesse do estúdio mandar para gravar, acho que não teria problema. O problema seria só o deslocamento, como eu trabalho muito no Rio, eu ir até São Paulo não seria viável para mim. Mas eu acho que é uma mulher que está dublando ele agora…
Veja, esta é a nova forma dele:
– É quase uma vinheta, parece o S do Sana!
O que é mais difícil para você, fazer personagens com uma expressividade mais exagerada ou personagens mais sérios e inexpressivos?
– O que me incomoda mesmo é prazo. Por exemplo, o cliente quer que eu faça um filme em 4-5 dias sendo que eu gostaria de fazer em 8-9 dias. Eu detesto pressa. O meu chefe fala que não entende por que eu quero ficar mais um ou dois dias trabalhando enquanto o resto do pessoal quer terminar logo e ir para casa, afinal, eu não ganho mais para isso. Eu ganho por minutagem de filme. Eu prefiro trabalhar assim por que eu quero fazer bem feito, eu quero fazer com calma. Ou, quando eu sinto que o cliente não está muito aí com o produto dele e eu quero fazer um trabalho legal, aí a coisa não rola, é chato. Agora, um personagem que me incomode? Só se fosse um filme com pedofilia, violência gratuita, um filme ruim… eu sinto que esses tipos não acrescentam muita coisa. Claro, não precisa ser tudo interessante, mas não me chame pra fazer coisas assim que eu não vou curtir mesmo.
Antigamente, dubladores eram aquelas pessoas que ficavam por trás dos bastidores, mas agora, principalmente com a ajuda da internet, os dubladores ficaram mais famosos. Quais são os pontos positivos e negativos dessa fama?
– Os positivos são sempre maiores, os contatos que eu tenho em redes sociais é delicioso. Tem aqueles fãs que exigem sua atenção, não percebem que às vezes não tem como você responder tudo na sua página, tem pessoas agressivas… atualmente eu procuro direcionar meu foco só para as pessoas do bem, tranquilas, e tento orientar quem não entende. Se a pessoa começar a me atacar, me trollar, eu procuro tentar não brigar, pois tem pessoas que realmente vem para nos machucar, mas isso é normal.